quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Chiharu Shiota
























Vendo as imagens no site dela, fica claro que essa ideia de "emaranhar coisas" a acompanha desde o início dos anos 2000 - sempre acho estranha essa denominação pra década -, o que faz parecer, ao menos num primeiro momento, que ela esteja  repetindo a mesma ideia em lugares diferentes do mundo.
Pensando um pouco mais com calma, considerando a dimensão de coisas que a realização de um trabalho destes envolve, talvez incluindo aí também uma questão de demanda - de galeristas, curadores, colecionadores,etc- que uma artista que tenha a projeção que ela parece ter deve  ter que lidar, ou ainda o próprio processo de criação em si, vejo algumas possibilidades para isso. Pode ser que esta repetição seja como aquelas fases em que achamos que estamos repetindo um pensamento,um processo,  mas na verdade ele está apenas se desenvolvendo lentamente, sem que tenhamos como nos dar conta disso de imediato. O que faria de sua produção uma espécie de work in progress compartilhada com o público -e precisa ser assim? e será que tem algum problema nisso? Ou simplesmente este viés tenha sido mais  aceito no meio artístico em que ela circula, recebendo assim mais atenção por parte da artista. Afinal, arte também é mercadoria...
Pelo que pude entender ela estudou, entre outros, com a Marina Abramovich, sua pesquisa começou a partir da performance e foi se encaminhando para as instalações. Nestas, ainda fica evidente a relação  corpo-espaço, evocando a da ausência deste corpo - isto é algo que me interessa bastante; acho potente como ideia e pode ser esteticamente belo também.
No caso das obras da Chiharu,  outra coisa que me interessou foram as modificações no espaço que a artista provoca -desenho no espaço; talvez tenha começado a me interessar a partir deste ponto de vista- e os trabalhos com vestidos de mulheres - qual será a conversa que ela está  propondo? Seja como for, gostaria de ver ao vivo estas obras.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A arte inscrita no mundo

1_ Ópera dos Vivos no CCSP (até 11/09)  Fui ver, vale muito a pena (ótimo o último ato, "morrer de pé").
Composto de quatro atos que priorizam cada qual uma linguagem - teatro, cinema, música e televisão-, o espetáculo faz uma reflexão sobre a cultura brasileira dos anos 1960 - época da formação da indústria cultural no país - em contraste  com os dias de hoje.


2- Trechos de depoimentos de artistas que recolhi de um livro que li nos últimos dias:
  • Nelson Leirner:
          Como era produzir na época da ditadura?
           Foi como eu disse: é muito mais fácil ser da geração de 60 ou 70, quando você tem um objetivo. É muito mais fácil trabalhar com um objetivo do que trabalhar como a geração 80, totalmente no ar. E nós tínhamos um objetivo. O que o jornal fazia quando tinha algo censurado? Colocava uma receita de bolo no lugar.(...) Nós também trabalhávamos em código. O que é incrível, porque nos dava uma agilidade de pensar que o artista, hoje, não tem.

          Naquela época havia um inimigo. Hoje, quando o senhor trabalha, pensa haver algum?
          Não. Nenhum. Eu não posso, por exemplo, vender sapato e ir experimentar um par numa mulher e dizer: "Que pé horroroso!" Afinal eu não quero vender o tal sapato? [mas que associação de idéias, heim! haha]  Há trinta anos, eu pegaria o sapato e diria:  " Olha, a solução para o seu pé é cortar todos os dedos."  Eu fazia isso antes. Só que hoje não faz mais  diferença, então eu não falo nada.

          O senhor deixou de falar porque não faz mais diferença?
          Não vai incomodar ninguém nem vai modificar o olhar de ninguém. Cada um vê como quer.Eu não consigo mais dizer "veja como eu vejo".

         O sistema se sofisticou de tal maneira que as pessoas anteriormente lidavam com mecanismos mais simples de contestação. Hoje essa crítica é consumida.
         Mas eu pergunto: onde eu peco ou não peco como artista? Por exemplo, hoje todos os que lidam com a arte tem que ter algum conhecimento sobre ela. Desde quem entrevista até o curador e o galerista. Logo, todos são meus sócios; é como eu os chamo. Alguns artistas têm uma visão romântica da arte e do artista que não existe mais hoje. Hoje nós trabalhamos. Eu faço o que sei fazer. Eu tenho um produto, um bom produto. Andy Warhol já previu isso quando fez sua produção. Não era só uma crítica ao consumo. Ele fez o consumo. Se hoje eu sou consumido, é porque sei fazer um produto.
       

  • Maria Bonomi:
      " Vou começar pela minha idade senão não dá papo. Eu vou fazer 70 anos e isso me deu tempo para que eu mudasse muitas coisas na minha vida, sobretudo nas artes plásticas. A gente tem de transformar tudo o tempo todo." 
"Eu acho que o artista é muito jornalista,precisa ver e ouvir. Aquela pessoa que, quando ocorre um fato, colhe as informações, as organiza e reproduz. Então a coisa passa a ser o que ele diz. Por que ninguém viveu aquele momento, a não ser ele ou as pessoas que contaram aquilo para ele. Por isso digo que, se uma pessoa quiser 'pegar' na outra, tem de fazê-lo sendo jornalista. Ou então não acontece. Eu gosto de pegar no outro. Quero que olhem, quero que entendam, se emocionem."
    "Eu não acredito que a arte vá se desenvolver se não for através da arte pública.Eu acho que é o único caminho. Arte pública, arte coletiva. E os museus facilitados.Eu sinto que o povo tem uma grande necessidade de convívio com a arte, porque tem a grande necessidade de sonho. A realidade não está dando todas as respostas."
   "Há um Brasil de costas pro Brasil. E esse Brasil que está sendo ignorado é o cultural. Isso é algo que dá pra sentir na carne. Só que nós não podemos mais ficar olhando nosso umbigo, principalmente no Brasil, onde vivemos uma tragédia. Não vamos fingir que somos uma platéia elitizada, preparada, que está fazendo suas aquarelas e vivendo suas memórias da Semana de  22. Não dá.É uma questão de ficar segurando a sintonia com o público, tem de ser por ai, como deve ser o jornalismo, a literatura, o cinema, o teatro. É preciso vivenciar as coisas. É uma questão de olhar, de afeto e, sobretudo, de emoção. E também de tesão, se não tem tesão não adianta. A gente se move na arte motivada de dentro pra fora porque senão não é possível."


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Uma planta


...porque é bom quando estamos cheios de sementes e as coisas começam a florescer em nós.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Primeiros desenhos







Estes são desenhos de 2005 ou 2006. São bem de quando comecei a pensar que poderia fazer algo com desenho de fato - quando comecei a vislumbrar um desenho que fosse "mais meu".
Ok. Os desenhos não são muito bons, mas foram importantes num start de percepções minhas quanto a desenho e representação. Lembro que o processo começou a partir do desenho de retrato -por um curto tempo-, foi para o desenho de paisagens, objetos, e continua seguindo.
Acho que a palavra que começou a ressoar na minha cabeça e corpo daí por diante foi: espaço. Nomeei então de vários modos: "espaço do cheio e do vazio", "espaço do silêncio", "espaço de dentro/de fora"... Isso são nomes que vamos dando aos processos numa tentativa de tornar mais consciente aquilo que corre pela intuição. Mas sinto que ainda são nomes e desenhos que apontam pra outra coisa, que ainda não descobri ao certo.
Rever estes desenhos me fez relembrar um desejo que surgiu nesta época, de fazer desenhos que fossem para "cobrir pessoas". A idéia era criar uma espécie de cápsula dentro da qual a pessoa entrasse e visse o desenho ao seu redor, podendo até vestir o desenho como um daqueles adereços de carnaval, em que a roupa fica afastada do corpo por uma armação. Será que dá pra entender com essa descrição?
Seja como for, estes desenhos me lembram um gosto bom, de se sentir em casa.

Quem é...

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São Paulo, Capital, Brazil