Composto de quatro atos que priorizam cada qual uma linguagem - teatro, cinema, música e televisão-, o espetáculo faz uma reflexão sobre a cultura brasileira dos anos 1960 - época da formação da indústria cultural no país - em contraste com os dias de hoje.
2- Trechos de depoimentos de artistas que recolhi de um livro que li nos últimos dias:
- Nelson Leirner:
Foi como eu disse: é muito mais fácil ser da geração de 60 ou 70, quando você tem um objetivo. É muito mais fácil trabalhar com um objetivo do que trabalhar como a geração 80, totalmente no ar. E nós tínhamos um objetivo. O que o jornal fazia quando tinha algo censurado? Colocava uma receita de bolo no lugar.(...) Nós também trabalhávamos em código. O que é incrível, porque nos dava uma agilidade de pensar que o artista, hoje, não tem.
Naquela época havia um inimigo. Hoje, quando o senhor trabalha, pensa haver algum?
Não. Nenhum. Eu não posso, por exemplo, vender sapato e ir experimentar um par numa mulher e dizer: "Que pé horroroso!" Afinal eu não quero vender o tal sapato? [mas que associação de idéias, heim! haha] Há trinta anos, eu pegaria o sapato e diria: " Olha, a solução para o seu pé é cortar todos os dedos." Eu fazia isso antes. Só que hoje não faz mais diferença, então eu não falo nada.
O senhor deixou de falar porque não faz mais diferença?
Não vai incomodar ninguém nem vai modificar o olhar de ninguém. Cada um vê como quer.Eu não consigo mais dizer "veja como eu vejo".
O sistema se sofisticou de tal maneira que as pessoas anteriormente lidavam com mecanismos mais simples de contestação. Hoje essa crítica é consumida.
Mas eu pergunto: onde eu peco ou não peco como artista? Por exemplo, hoje todos os que lidam com a arte tem que ter algum conhecimento sobre ela. Desde quem entrevista até o curador e o galerista. Logo, todos são meus sócios; é como eu os chamo. Alguns artistas têm uma visão romântica da arte e do artista que não existe mais hoje. Hoje nós trabalhamos. Eu faço o que sei fazer. Eu tenho um produto, um bom produto. Andy Warhol já previu isso quando fez sua produção. Não era só uma crítica ao consumo. Ele fez o consumo. Se hoje eu sou consumido, é porque sei fazer um produto.
Naquela época havia um inimigo. Hoje, quando o senhor trabalha, pensa haver algum?
Não. Nenhum. Eu não posso, por exemplo, vender sapato e ir experimentar um par numa mulher e dizer: "Que pé horroroso!" Afinal eu não quero vender o tal sapato? [mas que associação de idéias, heim! haha] Há trinta anos, eu pegaria o sapato e diria: " Olha, a solução para o seu pé é cortar todos os dedos." Eu fazia isso antes. Só que hoje não faz mais diferença, então eu não falo nada.
O senhor deixou de falar porque não faz mais diferença?
Não vai incomodar ninguém nem vai modificar o olhar de ninguém. Cada um vê como quer.Eu não consigo mais dizer "veja como eu vejo".
O sistema se sofisticou de tal maneira que as pessoas anteriormente lidavam com mecanismos mais simples de contestação. Hoje essa crítica é consumida.
Mas eu pergunto: onde eu peco ou não peco como artista? Por exemplo, hoje todos os que lidam com a arte tem que ter algum conhecimento sobre ela. Desde quem entrevista até o curador e o galerista. Logo, todos são meus sócios; é como eu os chamo. Alguns artistas têm uma visão romântica da arte e do artista que não existe mais hoje. Hoje nós trabalhamos. Eu faço o que sei fazer. Eu tenho um produto, um bom produto. Andy Warhol já previu isso quando fez sua produção. Não era só uma crítica ao consumo. Ele fez o consumo. Se hoje eu sou consumido, é porque sei fazer um produto.
- Maria Bonomi:
" Vou começar pela minha idade senão não dá papo. Eu vou fazer 70 anos e isso me deu tempo para que eu mudasse muitas coisas na minha vida, sobretudo nas artes plásticas. A gente tem de transformar tudo o tempo todo."
"Eu acho que o artista é muito jornalista,precisa ver e ouvir. Aquela pessoa que, quando ocorre um fato, colhe as informações, as organiza e reproduz. Então a coisa passa a ser o que ele diz. Por que ninguém viveu aquele momento, a não ser ele ou as pessoas que contaram aquilo para ele. Por isso digo que, se uma pessoa quiser 'pegar' na outra, tem de fazê-lo sendo jornalista. Ou então não acontece. Eu gosto de pegar no outro. Quero que olhem, quero que entendam, se emocionem."
"Eu não acredito que a arte vá se desenvolver se não for através da arte pública.Eu acho que é o único caminho. Arte pública, arte coletiva. E os museus facilitados.Eu sinto que o povo tem uma grande necessidade de convívio com a arte, porque tem a grande necessidade de sonho. A realidade não está dando todas as respostas."
"Há um Brasil de costas pro Brasil. E esse Brasil que está sendo ignorado é o cultural. Isso é algo que dá pra sentir na carne. Só que nós não podemos mais ficar olhando nosso umbigo, principalmente no Brasil, onde vivemos uma tragédia. Não vamos fingir que somos uma platéia elitizada, preparada, que está fazendo suas aquarelas e vivendo suas memórias da Semana de 22. Não dá.É uma questão de ficar segurando a sintonia com o público, tem de ser por ai, como deve ser o jornalismo, a literatura, o cinema, o teatro. É preciso vivenciar as coisas. É uma questão de olhar, de afeto e, sobretudo, de emoção. E também de tesão, se não tem tesão não adianta. A gente se move na arte motivada de dentro pra fora porque senão não é possível."
Olá, muito obrigada pelo teu comentário. :) Palavras como as suas me dão vontade de continuar escrevendo. Desculpe só responder agora, é que sou meio desligada para checar comentários, rs.
ResponderExcluirVocê é da unicamp?
O teu blog parece ser bem interessante.
:) Sem problemas quanto à demora, Aline. Eu tbm me enrolo as vezes com isso de comentário- recentemente descobri q no painel do usuário eles mostram os comentarios mais recentes, mas não tenho certeza nem disso ainda... rs
ResponderExcluirSou da Unicamp sim, me formei em Artes Plásticas lá em 2007. Vi teu blog por indicação da Julia Salgueiro (q esta na minha lista de blogs), acho q vcs fizeram um curso juntas ou algo assim. Bem, estamos aí, vamos continuar trocando figurinhas, certo? Estarei acompanhando daqui o teu... Abç!